Museu do Surfe

Special Royd Surfboards

Coluna Museu do Surfe, de Diniz Iozzi e Gabriel Pierin, conta história dos irmãoes Junior e Cide, fundadores da Special Royd Surfboards.

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A mãe, mato-grossense descendente de indígenas. O pai, piracicabano descendente de italianos. Lisea Salvio e Ethevaldo Antonio Salvio se conheceram e casaram em São Paulo (SP). A força interior, a positividade, o espírito guerreiro da indígena e a versatilidade do empreendedor do interior geraram seis filhos. A família mudou-se para Santos (SP) para acompanhar o trabalho de Ethevaldo, que entre outras atividades foi corretor de imóveis no Guarujá, durante a expansão imobiliária da Pérola do Atlântico.

Os filhos, Ethevaldo Junior, nascido em 5 de julho de 1962 e Alcides, em 6 de setembro de
1963, tiveram o primeiro contato com o surfe por volta de 1969. Foi quando o dentista Walter, primo do pai, apaixonado por carpintaria, acabara de fabricar um longboard de madeira ao filho Waltinho.

A estreia da prancha nas ondas do Canal 6 foi marcante na vida dos irmãos. Ao ver o jovem de pé deslizando sobre as espumas eles se olharam espantados e desejaram fazer igual.

Sem prancha, Junior e Alcides, o Cide, esperavam os surfistas caírem das ondas para surfar nas pranchas que eram levadas até o raso. A mãe, vendo aquilo, se sensibilizou e deu uma prancha vermelha da Homero Surfboards. Naquele ano de 1978, eles aproveitaram para conhecer o icônico shaper em sua loja na Epitácio Pessoa que abrigava, além da loja de surfe, uma pista de skate recém construída.

A prancha nova mudou a vida dos irmãos. Junior e Cide estudavam na Escola Estadual Ablas Filho, de frente à praia. Era uma tortura quando tinha onda e quase sempre cabulavam a aula. Os dois estudavam na mesma turma e repetiram o ano muitas vezes juntos também.

Dedicados ao surfe, Junior e Cide começaram a fazer reparos na garagem do prédio na avenida Rei Alberto 208, onde moravam. Depois, eles aproximaram os surfistas do bairro, entre eles Maninho, Zeca, Luizinho, Tony, Paulinho, Barone, e criaram uma pequena comunidade de surfe para competir entre eles, medir a habilidade e melhorar o estilo.

Com o ar do tempo decidiram fabricar as próprias pranchas. Junior e Cide caminhavam até a loja For Frio para comprar o isopor e cortavam com a ajuda da mãe. As duas primeiras pranchas deram certo e eles aram a fazer para os amigos que traziam o material. Ao longo da parceria, Cide foi o shaper e Junior o glasser.

Em janeiro de 1980, com o aumento da demanda, eles aram a cobrar pelo trabalho. O ponto de virada foi quando eles conversaram com os pais e decidiram pelo futuro da fábrica. Juntaram as letras que formavam os nomes e assim nasceu a Royd. A equipe cresceu e Luís Neguinho, um dos integrantes da equipe, sugeriu mudar o nome, pois achava curto. Junior não queria mudar e achou melhor acrescentar um adjetivo. A Royd virou Special Royd Surfboards e a mudança foi bem recebida.

Os irmãos sempre ouviam as opiniões e estimulavam a equipe para pesquisar as tendências e preferências dos surfistas. Isso ajudou a Special Royd a crescer no mercado. O marketing era dentro da água, direto com o público. A marca crescia, impulsionada pelos surfistas patrocinados, entre eles Tinguinha, Calmon, Deri, Jairzinho, Luís Neguinho Bito, Beto, Marcelo Peixe, entre outros.

A década de 1990 foi marcada por forte instabilidade no país. Junior e Cid optaram por viver nas ilhas espanholas das Canárias, com o apoio do amigo Peixinho. Lá eles abriram um ateliê, enfrentaram os desafios do negócio em terras estrangeiras, mas precisaram voltar ao Brasil quando Junior adoeceu. A perda precoce do irmão foi devastadora para toda família e, em especial, para Cide.

Depois de um tempo afastado da atividade, Cide voltou a shapear. Incentivado pelo amigo
Pascoal, ele voltou às Canarias, dessa vez, em Tenerife, onde se estabeleceu definitivamente. Montou uma nova fábrica, venceu um câncer, retomou às raízes com a lembrança viva do irmão e a esperança nos três filhos, Julia, Iesac e José Royd.

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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal.